Em muitas instituições de ensino, a escrita cursiva é cada vez menos praticada. Quais são os efeitos sobre o desenvolvimento cognitivo e motor das crianças?
Em muitas escolas dos Estados Unidos, a escrita à mão é praticada somente durante o ensino infantil e primeiro ano do fundamental, quando dá lugar à digitação em teclado. No restante do mundo, o ensino da escrita cursiva está sendo gradualmente abandonado.
À primeira vista, parece ser uma evolução compatível com o avanço da tecnologia, mas diversos especialistas questionam seus efeitos sobre o desenvolvimento cognitivo e o processo de aprendizagem infantil.
Um deles é Stanislas Dehaene, psicólogo do Collège de France de Paris, que ressaltou a relação entre a escrita e a estimulação cognitiva. "Quando escrevemos, um circuito neuronal único é ativado automaticamente, facilitando a aprendizagem", explica. Isso se evidencia na maior qualidade da leitura entre crianças que já aprenderam a escrever à mão.
Para identificar quais funções cerebrais são estimuladas quando escrevemos à mão, Karin James - psicóloga da Universidade de Indiana - dirigiu um estudo com um grupo de crianças que não sabia ler nem escrever. Elas deveriam reproduzir uma letra, seja traçando seu contorno em uma linha pontilhada preestabelecida, desenhando-a livremente em uma folha em branco ou digitando-a em um teclado.
Depois de medir a atividade cerebral de cada indivíduo em um scanner, os pesquisadores descobriram que as crianças que haviam copiado a letra à mão apresentavam uma atividade maior em três áreas do cérebro: o giro fusiforme esquerdo, a circunvolução frontal inferior (envolvida no reconhecimento visual ou gráfico da palavra durante o processo de leitura) e o córtex parietal posterior (encarregado de transformar as informações visuais em instruções motoras). Já nas crianças que empregaram as outras duas técnicas, essa ativação foi significativamente menor.
Virginia Berninger, psicóloga da Universidade de Washington, realizou um estudo com crianças da segunda à quinta série, e concluiu que redigir textos à mão não só as estimula a escrever um número maior de palavras e de forma mais rápida do que se os digitassem em um teclado, como as ajuda a expressar melhor suas ideias.
Berninger também observou que as crianças com melhor caligrafia experimentam uma aceleração neuronal maior nas áreas associadas à memória de trabalho, além de apresentar um aumento geral da atividade nas redes neuronais associadas à leitura e à escrita.
Tudo isso parece indicar que incentivar as crianças a escrever à mão continua sendo uma boa ideia.